Turismo Regenerativo: Como Ir Além da Sustentabilidade - Scream Festival

Turismo Regenerativo: Como Ir Além da Sustentabilidade

Fotografia/ Francisco Moreira e Gilberto Silva

O painel “Destino Turístico e Estratégias que Protegem suas Fontes de Inspiração e Experiência”, realizado no Scream Festival, trouxe uma reflexão essencial sobre como o turismo pode ser uma força regenerativa, indo além do conceito de sustentabilidade. Adriana Muniz, gestora da pasta ASG do Village Itaparica, e André Reis, secretário de Cultura e Turismo de Vera Cruz, compartilharam suas visões sobre como transformar o turismo em um agente de preservação, educação e integração com a comunidade local.

A ideia de turismo regenerativo, segundo os participantes, envolve não apenas evitar danos ao meio ambiente, mas também criar ações que restaurem, revitalizem e promovam um impacto positivo. Adriana destacou que o primeiro passo é criar um sentimento de pertencimento nas pessoas que vivem nos destinos turísticos. “A gente só cuida daquilo que conhece. Como essas crianças podem amar ou proteger algo que não lhes foi apresentado? Por isso, estamos ensinando às próximas gerações o valor dos nossos ecossistemas, como os manguezais e recifes de corais, por meio de projetos que misturam teoria e prática”, afirmou ela, mencionando as iniciativas educativas do Village Itaparica que já beneficiaram mais de 400 crianças da rede pública.

André Reis complementou ressaltando a importância do planejamento estratégico e do controle de impactos. “O turismo desordenado pode ser predatório. Por isso, começamos criando um inventário cultural e ambiental que nos ajuda a entender o que temos e o que precisamos proteger. O turismo regenerativo não é só preservar, é usar o turismo para revitalizar o que já existe e envolver as comunidades nesse processo”, explicou. Ele destacou iniciativas como o monitoramento de visitantes na Reserva My Friend e a proposta de transformar áreas sensíveis, como as Caramés, em parques naturais protegidos.

Para Adriana, o turismo regenerativo também deve valorizar as tradições culturais e fortalecer a economia local, promovendo um modelo de desenvolvimento que beneficie todos os envolvidos. “No Village Itaparica, trouxemos a comunidade para dentro do empreendimento. Não se trata apenas de abrir as portas para o artesanato local ou o samba de roda, mas de criar conexões genuínas entre turistas e moradores. Essa troca de experiências é o que torna o turismo significativo”, destacou. A parceria com o Samba de Roda 2 de Julho, por exemplo, não apenas sustenta financeiramente o grupo cultural, mas também garante a formação de novas gerações com o Samba Mirim.

Ambos reforçaram que o turismo regenerativo vai além de proporcionar boas experiências para os visitantes. Ele é um compromisso com o futuro dos destinos turísticos e das comunidades que vivem ali. “A Baía de Todos os Santos é a maior baía navegável do mundo e um ativo que ainda é subexplorado. Nosso trabalho é garantir que ela seja protegida, mas que também seja vivenciada de forma autêntica. Precisamos oferecer experiências que conectem as pessoas com a história, a cultura e o meio ambiente”, afirmou André.

Adriana finalizou dizendo que a regeneração começa com pequenas ações, mas que têm um impacto transformador. “No Village, implantamos coleta seletiva, criamos um bazar solidário que reaproveitou itens do antigo Clube Med, e estamos em parceria com a UFBA para desenvolver tecnologias de compostagem. Não é apenas sobre atender ao turista, mas sobre como o turismo pode devolver à comunidade e ao ambiente mais do que tira”, refletiu.

O turismo regenerativo, portanto, não é apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente. É um chamado para que o turismo deixe de ser apenas uma ferramenta de exploração e passe a ser um agente de transformação, capaz de equilibrar desenvolvimento, preservação e inclusão social. As iniciativas compartilhadas durante o painel são exemplos claros de como isso é possível, colocando a Baía de Todos os Santos e a Ilha de Itaparica como protagonistas de um modelo inovador que pode inspirar destinos no Brasil e no mundo.