Por um renascimento 2.0: o protagonismo do ser humano em tempos de algoritmos

A cobertura sobre inovação destaca sempre o impacto da tecnologia. Os carros voarão. A casa ligará sozinha todos os eletrodomésticos. Os robôs tomarão os empregos das pessoas. Esse enquadramento coloca o ser humano numa posição de coadjuvante e as máquinas na de protagonistas.

Esse posicionamento se aplica tanto para os benefícios quanto aos malefícios potenciais. Recentemente, foi notícia que Geoffrey Hinton, uma das principais lideranças de IA do Google, pediu demissão da empresa para, segundo ele, poder falar livremente dos riscos da Inteligência Artificial. Hinton tem receio de a IA sair do controle humano, e isso gerar um mundo distópico.

Acho importante analisar e discutir o papel dos elementos não-humanos. Inclusive, um dos meus autores preferidos é Bruno Latour, filósofo francês criador da Teoria Ator-Rede, que trata como agentes (realizadores da ação) os elementos não-humanos, como algoritmos. Entretanto, acho que devemos ter clareza de que, hoje, o poder está em mãos humanas, tanto para o bem como para o mal. 

É humana, por exemplo, a decisão sobre para onde vai o capital que financia o desenvolvimento de aplicações de IA, máquinas autônomas ou sistemas integrados. Além disso, todos estes elementos não-humanos ocupam papéis dentro de narrativas criadas e aceitas pelas pessoas: é necessário que haja adoção para que uma tecnologia gere impacto na realidade. Quem cria narrativas, interpretações ou barreiras são as pessoas, e são suas decisões que provocam mudanças.

O frenesi sobre a IA generativa e seu potencial risco de gerar desemprego em massa parte de uma visão em que a IA é agente onipotente. Desconsidera que as pessoas podem criar barreiras (legais, sociais, culturais etc) que impeçam que a tecnologia seja adotada ou realizar ressignificações que gerem mais atividades ao invés de extingui-las.

Como falei em artigo anterior, hoje, a tecnologia é assistente do ser humano, servindo para alavancar sua criatividade e capacidade de trabalho. O simples fato de usarmos prompts (comandos) deixa claro quem comanda (nós) e quem é comandado (a tecnologia).

Por isso, defendo que o cerne da discussão deve estar nos riscos e possibilidades do que a humanidade pode fazer com as tecnologias inteligentes. Podemos criar um mundo distópico ou utópico, mas, muito provavelmente, faremos algo no meio do caminho, em que problemas atuais serão sanados e novos problemas surgirão. Inclusive, são as pessoas que definem o que é um problema e qual merece ser sanado. Elas fazem isso com ou sem auxílio das máquinas.

Hoje, há uma tendência a divinizar a tecnologia e sacralizar os algoritmos. Devemos questioná-los e lembrar que eles estão a serviço das pessoas. Estas sim devem ser alçadas à posição de protagonistas.

Isso me faz lembrar do Renascimento, movimento cultural que valorizava o fator humano. Da Vinci fez o Homem Vitruviano. Michelangelo pintou a criação de Adão. Ambos buscavam colocar o ser humano no centro. Devemos retomar essa visão: não são as máquinas os elementos centrais. São as pessoas que têm o poder e moldam o mundo atual, bem como o que está por vir.

 

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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.

Por um renascimento 2.0: o protagonismo do ser humano em tempos de algoritmos

A cobertura sobre inovação destaca sempre o impacto da tecnologia. Os carros voarão. A casa ligará sozinha todos os eletrodomésticos. Os robôs tomarão os empregos das pessoas. Esse enquadramento coloca o ser humano numa posição de coadjuvante e as máquinas na de protagonistas.

Esse posicionamento se aplica tanto para os benefícios quanto aos malefícios potenciais. Recentemente, foi notícia que Geoffrey Hinton, uma das principais lideranças de IA do Google, pediu demissão da empresa para, segundo ele, poder falar livremente dos riscos da Inteligência Artificial. Hinton tem receio de a IA sair do controle humano, e isso gerar um mundo distópico.

Acho importante analisar e discutir o papel dos elementos não-humanos. Inclusive, um dos meus autores preferidos é Bruno Latour, filósofo francês criador da Teoria Ator-Rede, que trata como agentes (realizadores da ação) os elementos não-humanos, como algoritmos. Entretanto, acho que devemos ter clareza de que, hoje, o poder está em mãos humanas, tanto para o bem como para o mal. 

É humana, por exemplo, a decisão sobre para onde vai o capital que financia o desenvolvimento de aplicações de IA, máquinas autônomas ou sistemas integrados. Além disso, todos estes elementos não-humanos ocupam papéis dentro de narrativas criadas e aceitas pelas pessoas: é necessário que haja adoção para que uma tecnologia gere impacto na realidade. Quem cria narrativas, interpretações ou barreiras são as pessoas, e são suas decisões que provocam mudanças.

O frenesi sobre a IA generativa e seu potencial risco de gerar desemprego em massa parte de uma visão em que a IA é agente onipotente. Desconsidera que as pessoas podem criar barreiras (legais, sociais, culturais etc) que impeçam que a tecnologia seja adotada ou realizar ressignificações que gerem mais atividades ao invés de extingui-las.

Como falei em artigo anterior, hoje, a tecnologia é assistente do ser humano, servindo para alavancar sua criatividade e capacidade de trabalho. O simples fato de usarmos prompts (comandos) deixa claro quem comanda (nós) e quem é comandado (a tecnologia).

Por isso, defendo que o cerne da discussão deve estar nos riscos e possibilidades do que a humanidade pode fazer com as tecnologias inteligentes. Podemos criar um mundo distópico ou utópico, mas, muito provavelmente, faremos algo no meio do caminho, em que problemas atuais serão sanados e novos problemas surgirão. Inclusive, são as pessoas que definem o que é um problema e qual merece ser sanado. Elas fazem isso com ou sem auxílio das máquinas.

Hoje, há uma tendência a divinizar a tecnologia e sacralizar os algoritmos. Devemos questioná-los e lembrar que eles estão a serviço das pessoas. Estas sim devem ser alçadas à posição de protagonistas.

Isso me faz lembrar do Renascimento, movimento cultural que valorizava o fator humano. Da Vinci fez o Homem Vitruviano. Michelangelo pintou a criação de Adão. Ambos buscavam colocar o ser humano no centro. Devemos retomar essa visão: não são as máquinas os elementos centrais. São as pessoas que têm o poder e moldam o mundo atual, bem como o que está por vir.

 

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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.

Por um renascimento 2.0: o protagonismo do ser humano em tempos de algoritmos

A cobertura sobre inovação destaca sempre o impacto da tecnologia. Os carros voarão. A casa ligará sozinha todos os eletrodomésticos. Os robôs tomarão os empregos das pessoas. Esse enquadramento coloca o ser humano numa posição de coadjuvante e as máquinas na de protagonistas.

Esse posicionamento se aplica tanto para os benefícios quanto aos malefícios potenciais. Recentemente, foi notícia que Geoffrey Hinton, uma das principais lideranças de IA do Google, pediu demissão da empresa para, segundo ele, poder falar livremente dos riscos da Inteligência Artificial. Hinton tem receio de a IA sair do controle humano, e isso gerar um mundo distópico.

Acho importante analisar e discutir o papel dos elementos não-humanos. Inclusive, um dos meus autores preferidos é Bruno Latour, filósofo francês criador da Teoria Ator-Rede, que trata como agentes (realizadores da ação) os elementos não-humanos, como algoritmos. Entretanto, acho que devemos ter clareza de que, hoje, o poder está em mãos humanas, tanto para o bem como para o mal. 

É humana, por exemplo, a decisão sobre para onde vai o capital que financia o desenvolvimento de aplicações de IA, máquinas autônomas ou sistemas integrados. Além disso, todos estes elementos não-humanos ocupam papéis dentro de narrativas criadas e aceitas pelas pessoas: é necessário que haja adoção para que uma tecnologia gere impacto na realidade. Quem cria narrativas, interpretações ou barreiras são as pessoas, e são suas decisões que provocam mudanças.

O frenesi sobre a IA generativa e seu potencial risco de gerar desemprego em massa parte de uma visão em que a IA é agente onipotente. Desconsidera que as pessoas podem criar barreiras (legais, sociais, culturais etc) que impeçam que a tecnologia seja adotada ou realizar ressignificações que gerem mais atividades ao invés de extingui-las.

Como falei em artigo anterior, hoje, a tecnologia é assistente do ser humano, servindo para alavancar sua criatividade e capacidade de trabalho. O simples fato de usarmos prompts (comandos) deixa claro quem comanda (nós) e quem é comandado (a tecnologia).

Por isso, defendo que o cerne da discussão deve estar nos riscos e possibilidades do que a humanidade pode fazer com as tecnologias inteligentes. Podemos criar um mundo distópico ou utópico, mas, muito provavelmente, faremos algo no meio do caminho, em que problemas atuais serão sanados e novos problemas surgirão. Inclusive, são as pessoas que definem o que é um problema e qual merece ser sanado. Elas fazem isso com ou sem auxílio das máquinas.

Hoje, há uma tendência a divinizar a tecnologia e sacralizar os algoritmos. Devemos questioná-los e lembrar que eles estão a serviço das pessoas. Estas sim devem ser alçadas à posição de protagonistas.

Isso me faz lembrar do Renascimento, movimento cultural que valorizava o fator humano. Da Vinci fez o Homem Vitruviano. Michelangelo pintou a criação de Adão. Ambos buscavam colocar o ser humano no centro. Devemos retomar essa visão: não são as máquinas os elementos centrais. São as pessoas que têm o poder e moldam o mundo atual, bem como o que está por vir.

 

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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.